Muitas empresas familiares chegam ao ponto em que precisam recrutar competências externas, incluindo a vinda de um executivo de fora da família, quando os processos para “profissionalizar a família” não surtem os efeitos desejados. E não adianta insistir em colocar um membro da família que não esteja preparado para liderar já que quando se tem o CEO errado, como diz Ram Charan, especialista em gestão, “nada dá certo. Tutoria, coaching, membros seniores de equipes com habilidades complementares e ajuda especial do Conselho, nada funciona. As perdas são irreparáveis — e muito evidentes”. Por isso, mesmo muitas vezes indo contra a vontade da família, é preciso buscar um talento de fora no mercado ou dentro da própria empresa.
Antes de tomar qualquer decisão, a família deve avaliar:
- Qual o perfil adequado ao principal executivo a nossa empresa?
- A família possui candidatos ajustados à necessidade da empresa?
- A empresa possui candidatos não familiares para essa função de liderança?
- Precisamos buscar um talento no mercado para ocupar essa posição?
Para responder boa parte dessas perguntas, é fundamental que a família conheça seus membros para entender quais são suas deficiências e entender o que deve preservar. Algumas características do negócio, como o processo de tomada de decisões, pode ser profundamente afetado pela entrada de um executivo principal de fora, porém, quando as carências da organização não podem ser supridas por nenhum outro membro família, um profissional externo pode ser a chave para garantir a continuidade do negócio. Trata-se, portanto, de um sacrifício a ser feito.
Da mesma maneira, é preciso entender exatamente quais são os desafios estratégicos da empresa: o objetivo é mudar o direcionamento do negócio ou apenas encontrar um profissional que conduza bem a empresa? Em ambos os casos pode haver a necessidade de encontrar alguém que supra as carências da família.
Segundo Josep Tàpies, administrador especialista em empresas familiares, “não pode haver dúvida de que o ideal é sempre ter os melhores profissionais em cada cargo. E precisamos aceitar que um profissional com expertise mais adequada para um cargo pode estar no mercado, e não dentro da família. Além disso, essa busca pelo melhor profissional pode ter a ver com capacidade e habilidade, mas também pode estar ligada a uma decisão estratégica”.
Veja a seguir como entender as reais necessidades do seu negócio quando o assunto é a possibilidade de contar com um executivo de fora:
O que buscar neste executivo?
Além das competências inerentes ao cargo, o executivo de fora da família precisa ter um profundo entendimento dos objetivos e valores da organização. Somente a partir dessa percepção é que será possível aplicar suas habilidades de gestão e experiência, atendendo as demandas da empresa.
Caso contrário, um executivo proveniente do mercado pode criar conflitos ao tentar impor práticas que a companhia rejeita. Esse gestor pode até ter um estilo gerencial diferente, mas precisará compartilhar dos mesmos valores centrais.
Ao mesmo tempo, é fundamental que a família sinta que está no comando e de que sabe exatamente o que está buscando – por isso, é essencial responder às perguntas que colocamos acima.
Muitas vezes, por não ter a resposta para um problema, a família busca um profissional externo para tentar responder esse desafio. Neste caso, antes de buscar um profissional, pode ser melhor buscar uma consultoria capaz de ajudá-la a pensar e só depois ir buscar um executivo com a certeza de que a procura a ser feita será assertiva.
Separando os papeis
Quando se chega ao ponto de contratar um executivo de fora da família, os seus membros precisam entender bem os seus papeis, separando a propriedade e a gestão. Não vale a pena incorporar um novo executivo se a família irá continuar resolvendo os problemas do dia a dia com as pessoas de sua confiança. O dia a dia faz parte da gestão, que passa a ser uma incumbência do executivo, que precisa ter espaço para manobra e a confiança de todos para que possa resolver os problemas.
Os membros da família que, além de sentirem proprietários, estiveram envolvidos por anos na administração e na direção, devem assumir um novo papel. A chegada de um executivo de fora da família implica na mudança na forma de trabalhar e os proprietários devem definir o grau de liderança e autonomia que estão dispostos a conceder, garantindo a longevidade do negócio.